O desemprego no Brasil caiu para 11% no último trimestre de 2019, a menor taxa desde março de 2016, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento mostrou que o número de trabalhadores com carteira assinada cresceu 2,2% em relação ao mesmo período de 2018, chegando a 33,7 milhões. Porém, o país ainda tem 11,6 milhões de desempregados, e o trabalho informal atingiu o maior patamar em quatro anos.
Segundo o IBGE, a informalidade — soma dos trabalhadores sem carteira, por conta própria, domésticos não registrados e empregadores sem CNPJ — representou 41,1% da população ocupada, ou 38,4 milhões de pessoas na média de 2019. “Houve um acréscimo de um milhão de pessoas” nessa condição, disse a responsável pela Pnad Contínua, Adriana Beringuy.
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, “a recuperação do mercado de trabalho é lenta e gradual, com aspectos de precariedade”. “É complicado mudar esse jogo rapidamente, por causa das novas modalidades de emprego. É difícil separar quem vende brigadeiro de quem trabalha por aplicativo”, disse. “A confiança não é tão grande quanto se imagina. Vai demorar para voltarmos aos patamares de 2014. No ritmo atual de crescimento, pode levar cinco anos, se não formos atropelados pelos Estados Unidos e pelo coronavírus da China”, assinalou o economista.Continua depois da publicidade
No entender de Alex Agostini, economista-chefe da Agência Austin Rating, “no geral, o resultado da Pnad foi bom e as perspectivas futuras são de melhora, embora aquém do desejado, que é um percentual abaixo de dois dígitos”. Até o início do segundo semestre, os efeitos das reformas trabalhista e previdenciária começarão a ser sentidos, “caso o coronavírus deixe de ser um fator de preocupação para os empresários”, disse Agostini.
Ele ressaltou, ainda, que o fato de o emprego de carteira assinada ter se expandido é motivo de destaque. “É uma modalidade com custo alto para o empresário. É bom que o trabalhador tenha conquistado essa segurança”, reforçou.
Ana Júlia Medeiros, 22 anos, conseguiu um emprego de carteira assinada há duas semanas em uma loja de acessórios para crianças e mulheres no Sudoeste. “Fiquei mais de oito meses procurando. Ia nas agências e em grupos de WhatsApp. Foi no zap que encontrei essa vaga”, conta a jovem. Ela passou por 15 entrevistas até ser convocada para a vaga que ocupa hoje.
Gilson Ferreira, 32 anos, técnico em sistemas, não teve a mesma sorte. O último emprego foi na área de serviços gerais, em administrações regionais do DF. Agora, tenta sobreviver com o seguro-desemprego. “Estou na expectativa de algum emprego para ter condições de pagar as dívidas. As coisas estão apertadas”, disse ele, acrescentando que aceitaria receber menos em um novo emprego. “Hoje em dia, quem escolhe demais acaba ficando para trás”.
Para Antônio Corrêa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), a redução do desemprego e a recuperação da atividade econômica são os principais desafios do país. “Embora a taxa de desemprego formal tenha caído, os desocupados, desalentados e subocupados não serão incorporados nos próximos anos. A política econômica não tem essa meta. A situação delas pode até se agravar”, disse.
Mudanças
Outro indicador em destaque na Pnad Contínua é a população subutilizada — que inclui pessoas desocupadas, que trabalham menos horas do que gostariam, ou na força de trabalho potencial. O contingente de pessoas nessa categoria chegou a 27,6 milhões em 2019, o maior valor da série.
Na avaliação de André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, é preciso deixar de olhar apenas o desemprego para prestar atenção na massa salarial, já que houve mudanças significativas (institucionais e tecnológicas) no mercado, com formas mais “fluidas” de contratação que permitem “segurar a renda média habitual dos trabalhadores” e beneficiar os empresários. “Com salários contidos, o custo empresarial fica sob controle e, como a massa salarial sobe, implica dizer que a demanda vai crescer, criando as condições para um aumento mais que proporcional do lucro empresarial vis-a-vis a alta da receita.”
Fevereiro chega com um alívio no bolso dos consumidores. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou, nesta sexta-feira (31/1), que a bandeira tarifária será verde, sem custo adicional na conta de luz. Em janeiro, vigorou a sinalização amarela, com acréscimo de R$ 1,343 para cada 100 quilowatts/hora (kWh) consumidos. Segundo o órgão regulador, “o acionamento deve-se à previsão mais positiva de chuvas nas regiões onde se localizam os principais reservatórios de hidrelétricas do Sistema Interligado Nacional (SIN)”. “A expectativa é de que ocorra recuperação mais intensa do armazenamento ao longo de fevereiro”, informou a Aneel.
Dívida recua
Um dos principais indicadores usados para medir a saúde das contas do governo, a dívida bruta do setor público caiu pela primeira vez desde 2013. No fim do ano passado, o total foi de R$ 5,5 trilhões, o equivalente a 75,8% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com o Banco Central (BC). O valor considera o endividamento do governo federal, da Previdência, dos estados e dos municípios. Em dezembro de 2018, o montante era de R$ 5,6 trilhões, ou 76,5% do PIB.
A melhora, porém, só foi possível por conta de eventos extraordinários que ajudaram a inflar o caixa do governo no ano passado e podem não se repetir em 2020. Os dois principais foram a devolução antecipada de R$ 100 bilhões do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Tesouro Nacional e a venda de reservas internacionais pelo BC.
“O BNDES deveria pagar ao Tesouro R$ 26 bilhões, mas pagou R$ 123 bilhões. É 1,3% do PIB acima do esperado. Já o BC vendeu R$ 142 bilhões de reservas. É mais 2% do PIB. Só aí dá 3,5% do PIB”, explicou o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.
Mesmo que em menor proporção, também contribuiu para a queda a redução do custo da dívida. Segundo o BC, o setor público gastou R$ 367,3 bilhões com juros em 2019. O valor representa 5,06% do PIB, mas é o menor desde 2014.
O corte na despesa com juros, porém, não foi puxado majoritariamente pela queda da taxa básica, a Selic, como esperavam analistas, mas pelo efeito de operações de swap cambial realizados ao longo de 2019 pelo BC para tentar controlar a volatilidade do dólar.
“A conta de juros nominais passou de R$ 379,2 bilhões, em 2018, para R$ 367,3 bilhões em 2019. Essa redução de R$ 11,9 bilhões cai a R$ 4,4 bilhões se nós retirarmos o impacto dos swaps”, explicou o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha.
De acordo com os dados do BC, de 2018 para 2019, o deficit primário do setor público consolidado, que inclui governo federal, empresas estatais, estados e municípios, caiu de R$ 108,3 bilhões para R$ 61,9 bilhões — cerca de 0,85% do PIB. O deficit nominal, que considera o resultado primário e os juros da dívida, foi de R$ 429,2 bilhões — o melhor resultado desde 2013.
O economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, avaliou que o ajuste fiscal ainda não está consolidado, mas observou que outras receitas extraordinárias, como as privatizações, podem ajudar o caixa do governo neste ano. “E, como os juros continuam baixos, podemos ter uma economia maior, perto de R$ 120 bilhões, com os encargos financeiros”, calculou.
Fonte: Correio Braziliense/ Por:Vera Batista/Gabriel Pinheiro/Marina Barbosa