Apenas 16% das pequenas empresas que buscaram crédito na pandemia conseguiram, diz pesquisa

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29 de junho de 2020

Apenas 16% das pequenas empresas que buscaram crédito na pandemia conseguiram, diz pesquisa

Levantamento mostra que a dificuldade de acesso ao crédito muitas vezes é fatal para as micro e pequenas empresas, que respondem por cerca da metade dos empregos com carteira assinada do país.

Uma pesquisa mediu o tamanho da dificuldade de donos de micro e pequenos negócios para conseguir ajuda e resistir aos efeitos econômicos da pandemia.

Uma história de 30 anos de aromas e sabores. “Uma massa folhada recheada com arroz marroquino, cordeiro e amêndoas; o mulukhieh é um ensopado de verdura egípcio”, explica Cynthia Moujaes, dona do restaurante.

O restaurante libanês fundado pelo pai de Cynthia na região central de São Paulo fechou as portas esta semana, deixando oito funcionários sem emprego e uma grande frustração. A dona tentou vários empréstimos para pagar as contas durante a pandemia, mas o dinheiro não saiu.

“Sem uma linha de crédito não é possível, a gente adoraria poder porque, enfim, é uma situação onde a nossa renda foi embora, a gente se viu sem renda nenhuma. Meus pais achavam que iriam se aposentar lá, eu achei que agora a gente ia a começar a assumir uma nova fase com novo projeto e acaba que sendo um sonho interrompido”, diz Cynthia.

Um outro restaurante que também encerrou as atividades deixou na porta um comunicado aos clientes e fornecedores: “Tentamos nos manter de pé com delivery em meio à pandemia, mas não houve êxito. Esperamos ter deixado boas lembranças e a certeza de que foram bem atendidos ao longo desses 20 anos.”

Ao todo, 518 mil micro e pequenas empresas brasileiras, 3% do total, fecharam as portas de vez durante a crise, segundo o Sebrae. O levantamento mostra que a dificuldade de acesso ao crédito muitas vezes é fatal nesse segmento, que responde por cerca da metade dos empregos com carteira assinada do país.

A pesquisa ouviu mais de 7 mil micro e pequenos empresários em todos o Brasil no fim de maio e começo de junho.

Dos que fecharam os negócios, 43% disseram que o que mais teria ajudado a evitar essa situação seria apoio financeiro do governo, e 18% citaram um empréstimo bancário.

Desde o início das medidas de isolamento social, 6,7 milhões empreendedores de pequeno porte tentaram crédito, e 84% ainda não conseguiram.

“Não é que não tenha crédito, difícil é o acesso ao crédito, sabe? O governo, embora tenha feito esforços, ele não conseguiu entender a necessidade e o que representa a micro e a pequena empresa para o Brasil. São 99,1% das empresas brasileiras e se a gente perder 20% desse time, é um desastre”, afirma o presidente do Sebrae, Carlos Melles.

Para contornar o apagão nas contas, Nívea teve que ser ainda mais criativa. Ela é dona de uma empresa que anima crianças em festas.

“Eu me via cancelando todos os eventos, os clientes pedindo o dinheiro de volta. Aí surgiu a ideia da recreação online. Elas falaram nossa, é ótima essa ideia porque agora a gente não sabe o que fazer com nossos filhos nessa pandemia, eles sem aula”, conta Nívea Sutter, recreadora de festas.

Em vez dos longos aniversários nos fins de semana, ela passou a entreter crianças por 30, 40 minutos em sessões de videoconferência.

O percentual de pequenas empresas que passaram a vender pela internet subiu com a pandemia.

“O desafio maior é se a criança sai da frente da câmera, eu não posso ir lá buscar, né? Então, às vezes eu fico: ‘ô, amigo, volta’. E eles se divertem”, diz Nívea.

O Ministério da Economia afirmou que tem tomado todas as providências para que o crédito chegue ao micro e pequeno empreendedor, que criou o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte e o Fundo de Garantia de Operações do Pronampe para garantir as operações de crédito para as instituições financeiras.

Esta semana, o Banco Central anunciou o pacote com o objetivo de oferecer até R$ 272 bilhões em créditos para pequenas empresas. Entre as medidas, estão: a permissão do uso de imóvel já financiado como garantia para um novo empréstimo e a possibilidade de as instituições financeiras reduzirem o valor do dinheiro que precisam deixar parado no Banco Central, caso concedam crédito às empresas para aumentar o capital de giro.

 

Fonte: G1/Jornal Nacional