O resultado do PIB do segundo trimestre surpreendeu o mercado, que esperava um avanço marginal no período, com o avanço de 0,4%, o dobro das projeções das principais instituições financeiras. Apesar do alento, a economia brasileira mantém o ritmo letárgico dos últimos anos, mesmo com o avanço da agenda de reformas liberais no Brasil. Entre abril e junho, a taxa de investimento foi de 15,9%, 3,2% acima do trimestre anterior, o que representa um sinal positivo internamente. Porém, o patamar ainda está aquém do necessário para estimular um círculo virtuoso da atividade econômica. Com uma crise global à espreita, incluindo a Argentina na corda bamba, e com sinais de reticências do setor privado sobre o ambiente de negócios, o radar se volta para a taxa de investimento do país, ou seja, a capacidade de empresas e Governo investirem. Em 2018, o indicador chamado de Formação Bruta de Capital Fixo, que mede a destinação de recursos para a aquisição de máquinas e equipamentos, e para projetos de construção (novas fábricas, por exemplo) e inovação, foi de 15,8% do PIB, umas das menores taxas de investimento do mundo. Foi um resultado cinco pontos percentuais menor que a média alcançada entre 2010 e 2014, no período pré-recessão.
Apenas 19 países ficaram atrás do Brasil no ano passado, entre eles o Sudão do Sul, a Venezuela e a Nigéria. Segundo dados do World Economic Outlook do FMI, compilados pela FGV, mais de 88% dos países (152 em uma amostra de 172) apresentaram uma taxa de investimento maior do que a brasileira em 2018. Quando a comparação é com os países emergentes, estes investiram, em média, mais que o dobro. Já a média dos países da América Latina e Caribe tiveram um investimento de quase quatro pontos porcentuais maiores que o nosso. Até mesmo a vizinha Argentina, que enfrenta uma severa crise política-econômica e no ano passado viu sua atividade recuar 2,8%, apresentou uma taxa de investimentos maior que a do Brasil em 2018, com 20%.
"Estamos numa situação muito ruim quando comparamos com o resto do mundo uma vez que nosso crescimento foi muito baixo nos últimos anos. Possivelmente, essa vai ser a pior década de avanço da nossa atividade, fruto de uma recessão sem precedente, de contas públicas no vermelho já há anos e dessa recuperação lenta e gradual”, explica o economista Marcel Balassiano, pesquisador da FGV-IBRE.
Diante do forte tombo econômico, a taxa de investimento no Brasil chegou ao menor nível em mais de 50 anos, de acordo com um estudo da FGV. Quando se leva em conta a média móvel dos últimos quatro anos – terminando no primeiro trimestre de 2019 —, o valor do investimento foi de 15,5%, o menor desde 1967, que apresentou a mesma taxa. "A questão é que a construção civil tem um peso grande nessa taxa e ela ainda não voltou ao patamar pré-recessão", destaca o economista. Para ele, o grande problema do Brasil é o déficit fiscal. “Já são cinco anos de déficit primário e uma dívida pública de 80% do PIB. O próprio ambiente de negócio está complicado”, completa.
O quadro de incertezas sobre o futuro do país também diminui a confiança para investimentos de longo prazo, fazendo com que empresários e investidores internacionais represarem alocação de recursos no Brasil. "Reverter esse quadro é fundamental para que a economia possa reagir e crescer mais, e com isso, aumentar a geração de empregos", explica. Resolver o desequilíbrio fiscal - primeiramente via reforma da Previdência —e melhorar o ambiente de negócios, com medidas como a da recente MP da Liberdade Econômica, são passos importantes para que isso ocorra, de acordo com o economista. A projeção do IBRE é, no entanto, de que o investimento deva crescer menos em 2019 do que no ano passado.
Balassiano ressalta que a escassez de investimento brasileiro é uma constante das últimas décadas. Há anos, o país está no grupo dos que menos investem em comparação com o resto do mundo. Nas décadas de 1980 e 1990, por volta de 70% dos países investiram mais do que o Brasil, número que aumentou para 80% nas duas décadas seguintes. Agora o país está no grupo dos 90% que menos investem.
Desde a década de 80, o Brasil alocou menos recursos inclusive que os seus pares latino-americanos (Chile, Colômbia, México e Peru). Nos últimos 39 anos (1980-2018), enquanto a média do investimento do Brasil foi de 18,8%, a dos quatro países foi de 22,3%. Ou seja, o investimento brasileiro anual foi 3,5% do PIB menor do que a média de Chile, Colômbia, México e Peru.
Com um rombo nas contas públicas há cinco anos, o investimento público também sofreu um tombo grande e hoje segue em um nível muito baixo, principalmente com o teto de gastos acordado no Governo Temer. Segundo outro estudo feito pela FGV, entre 2013 e 2017, os investimentos com recursos públicos recuaram de 4,06% do PIB para 1,85%, quando registraram o índice mais baixo da série histórica. Uma pequena reação só aconteceu no ano passado, quando esses investimentos subiram para 2,43% do PIB, mas ainda longe do patamar anterior a recessão.
Fonte: El País/Por: Heloísa Mendonça