Retração do setor de 1%, em junho, reforça uma série de indicadores ruins no mês. Expectativa de especialistas é que o recuo do Produto Interno Bruto de janeiro a março se repita nos três meses seguintes, levando o país ao segundo trimestre de taxa negativa
Responsável por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e por 72% dos empregos formais do país, o setor de serviços caiu 1% em junho, na comparação com o mês anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda se soma à coleção de resultados negativos que a economia brasileira obteve em 2019. Com isso, há grande probabilidade de o país ter voltado ao quadro de recessão técnica, quando há recuo na atividade econômica por dois trimestres seguidos.
O indicador do volume de serviços era o último que faltava para completar os dados setoriais do segundo trimestre deste ano. No primeiro, a economia brasileira se retraiu 0,2% e, pelo que acreditam analistas, uma taxa negativa deve se repetir entre abril e junho. O economista Alex Agostini, analista da Austin Rating, afirmou que o país tem dificuldades de se aquecer economicamente, mesmo com o avanço de medidas importantes, como a reforma da Previdência.
“Infelizmente, nós estamos projetando uma queda de 0,32% no PIB do segundo trimestre, e o país voltará para o quadro de recessão técnica. Nossos indicadores não mostraram melhora. Pelo contrário, diversos índices estão ruins e continuam se deteriorando”, destacou Agostini.
Otimista, o mercado tinha uma expectativa no início do ano de que o setor produtivo teria um choque de confiança com a mudança de governo e viés na política econômica. Tanto que os indicadores de confiança aumentaram no começo de 2019, os dados da economia real, entretanto, permaneceram estagnados. O setor de serviços, por exemplo, cresceu apenas 0,6% no primeiro semestre do ano. Por conta disso, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou de 1,6% para 1,3% a projeção de crescimento do setor para este ano.Continua depois da publicidade
Para a entidade, a recuperação tem sido mais lenta do que o esperado. Atualmente, o volume mensal de receitas de serviços ainda se encontra em 12,8%, abaixo do pico da atividade ocorrido em novembro de 2014.
As vendas do varejo ampliado, que consideram o comércio de veículos, aumentaram 3,2% nos primeiros seis meses. Desconsiderando os números do ramo automobilístico, que é um dos poucos mercados que têm reagido bem, no entanto, o setor cresceu apenas 0,6%. O economista Flavio Serrano, do Banco Haitong, explicou que há um quadro geral de pouca demanda no país. “O único que destoou do restante da economia foi a venda de veículos, que cresceu 10% no primeiro semestre, puxando o varejo para um resultado positivo. Mas o que nós vemos é que o setor tem demonstrado um ritmo de recuperação ainda muito fraco”, avalia.
Viés de baixa
Os dados mais desanimadores são da indústria, que tombou 1,6% no primeiro semestre do ano. Para analistas, a sensação é de que, até então, o ano foi perdido. “Os primeiros seis meses foram bastante decepcionantes. Tanto é que nós revisamos as projeções do PIB de 2019 diversas vezes, passando de um crescimento de 3% para algo em torno de 1%, e em viés de baixa”, afirmou Agostini.
Considerado uma prévia do PIB, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,47% em abril e avançou 0,54% em maio, ambos os resultados levando em comparação o mês anterior. A autoridade monetária ainda não divulgou a taxa de junho, mas analistas argumentam que o indicador, até então, ficou no zero a zero, e que a queda de 1% do setor de serviços no último mês do segundo trimestre deve puxar a atividade econômica para baixo.
O economista-chefe do Necton Investimentos, André Perfeito, que tem uma das projeções mais pessimistas do mercado, acredita que o PIB do segundo trimestre caiu 0,2%. Também ressalta que o país não conseguirá manter um bom desempenho pelo resto do ano. “Assumindo que cresceremos 0,5% no terceiro trimestre e depois 0,6% no quarto trimestre, que são hipóteses bastante otimistas, isso implica dizer que o PIB de 2019 será de 0,42%”, destacou.
Endividamento
A conta do analista já leva em consideração a liberação dos saques dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Programa de Integração Social (PIS), além da redução dos juros feita pelo Banco Central (BC) para estimular a economia. A taxa básica Selic estava em 6,5% ao ano, considerado o menor patamar da história e, mesmo assim, a economia não reagiu como o esperado. O desemprego elevado e o endividamento das famílias ainda limitam o consumo e o aquecimento da economia.
O Comitê de Política Monetária (Copom) prevê que haverá uma recuperação mais forte da economia à frente, com a concretização das reformas. Patrícia Pereira, especialista da Mongeral Aegon Investimentos, afirmou, porém, que os indicadores da economia real não sugerem melhora no curto prazo. “É uma sucessão de números de atividade que frustram expectativas. Há uma melhora de percepção em relação à atividade nos índices de confiança, mas que não impactou a economia real”, afirmou. “Mesmo com a liberação dos saques do FGTS e PIS, estamos menos otimistas com estes estímulos. Só reforça que o BC terá que continuar a reduzir os juros para estimular ainda mais a economia”, completou.
Bolsa recua e dólar sobe
Em mais um dia de declarações polêmicas do presidente norte-americano, Donald Trump, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) fechou o pregão em baixa de 0,11%, a 103.996 pontos. O temor de acirramento da guerra comercial com a China, a partir da informação de que os Estados Unidos não estão preparados para fechar acordo comercial com os chineses, fez o dólar voltar a subir, encerrando o dia em alta de 0,33%, cotado a R$ 3,941. O avanço da Previdência e a possibilidade de apresentação da proposta de reforma tributária não foram suficientes para conter as incertezas externas.
Fonte: Correio Braziliense